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Justiça

Promotores mostram fotos de Bernardo morto e apontam culpa dos quatro réus por ‘homicídio repugnante’

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O júri do assassinato do menino Bernardo Boldrini chegou nesta quinta-feira (14) à fase de debate entre defesa e acusação. Durante a explanação dos promotores, foram exibidas fotos do cadáver da criança, em um dos momentos de maior comoção do julgamento popular que é realizado desde o início da semana no Fórum de Três Passos, no Noroeste do Rio Grande do Sul.acusações.

Promotor Bruno Bonamente durante a fase de debate do julgamento do caso Bernardo. No centro, a juíza Sucilene Engler — Foto: Joyce Heurich

promotoria anunciou que iria mostrar imagens fortes para os jurados, réus e todos que assistiam ao julgamento. Era o corpo de Bernardo, deitado na mesa de um necrotério, nu, completamente desfigurado, após ter passado dez dias enterrado em uma cova.

“É forte. Eu espero que o pai dele, que está sentado lá atrás, tenha coragem para ver o filho dele. Porque ele pediu para ver o corpo. E agora ele vai ver”, provocou o promotor Ederson Vieira pouco antes de exibir as imagens.

O pai Leandro Boldrini, no entanto, recusou-se a ver as fotos e pediu para se retirar do salão do júri por meio de sua defesa. Alguns presentes choraram ao ver o estado do corpo sem vida, outros preferiram desviar o olhar daquela cena. Entre os réus presentes no salão do júri, apenas Evandro teve coragem de olhar para a tela.

“O crime é brutal, o crime machuca, o homicídio que elas fizeram é repugnante”, disse o promotor Bruno Bonamente.
Os promotores Ederson Vieira, Bruno Bonamente e Silvia Jappe sustentaram que os quatro réus tiveram participação no assassinato, mas com motivações distintas. “O Evandro fez por dinheiro, não matou por prazer. Os outros três mataram por prazer”, disse Vieira. Evandro fazia sinal de negação com a cabeça enquanto ouvia.

O promotor classificou Edelvânia, Graciele e Leandro como “psicopatas” e pediu pena máxima a todos no fim de sua manifestação, enquanto exibia a foto de Bernardo, desta vez sorrindo, na tela.

“O Bernardo para mim está vivo. Eu tenho impressão de que ele vai entrar ali, ó”, declarou Vieira, apontando para a porta do salão do júri. “Ele vai pedir justiça”, completou.

Fase de debates

À frente, o réu Evandro Wirganovicz observa seu advogado de defesa. Ao fundo, à esquerda, Graciele Ugulini — Foto: Joyce Heurich

A explanação durou quatro horas. A defesa de cada um dos réus, agora, tem uma hora para se manifestar. Para não interromper o debate, a juíza optou por estender a sessão, que será mais extensa do que nos dias anteriores.

Pode haver uma réplica de duas horas para o Ministério Público e uma tréplica, do mesmo período, dividida entre as quatro defesas. É nessa fase do julgamento que as partes defendem suas teses sobre o ocorrido, buscando convencer os jurados.

Essa é a última etapa antes que o Conselho de Sentença do Tribunal do Júri, formado por sete pessoas, decida se os réus são culpados ou inocentes. A expectativa é que a sentença seja proferida pela juíza Sucilene Engler nesta sexta-feira (15).

Bernardo Uglione Boldrini morreu em abril de 2014, aos 11 anos, após ingerir uma superdosagem de Midazolam, medicamento indutor de sono. O corpo dele foi encontrado 10 dias depois, enterrado em uma cova no interior de Frederico Westphalen.

O pai da criança, o médico Leandro Boldrini, e a madrasta, Graciele Ugulini, respondem por homicídio com quatro qualificadoras (motivo torpe, fútil, com emprego de veneno e mediante dissimulação). Edelvânia e Evandro Wirganovicz, por homicídio duplamente qualificado. Os quatro respondem por ocultação de cadáver. O pai de Bernardo ainda é acusado de falsidade ideológica.

Conjunto probatório

Promotor Ederson Vieira aponta para foto de Bernardo durante explanação — Foto: Marcio Daudt/TJ-RS

O salão do júri estava lotado quando o promotor Bruno Bonamente colocou-se de pé e começou a apresentar em uma tela cada uma das acusações contra os réus. “O Tribunal do Júri é aquele momento em que a sociedade julga os seus pares”, definiu o promotor.

“Já peço, de saída, a condenação dos réus em todos esses crimes”, disse Bonamente, antes de começar a listar as acusações.

A promotoria começou a apresentar, em seguida, uma série de provas: notas fiscais, áudios, vídeos, que corroboram a tese da acusação. Também mostraram aos jurados uma lista de cerca de 100 testemunhas que foram ouvidas ao longo da investigação e reforçam a tese.

Embora as evidências contra Leandro sejam indiretas, segundo a promotoria, a acusação voltou a sustentar: “Os quatro réus estão envolvidos tanto no homicídio quanto na ocultação de cadáver.”

Os promotores defenderam, em diversos momentos, principalmente quanto a Leandro, que o conjunto probatório – reunião de várias provas que indicam a autoria de um crime – é o que leva ao pedido de condenação dos quatro réus. “Não há provas estanques, as provas conversam entre si”, explicou Bonamente.

Graciele e Edelvânia passaram a maior parte do tempo olhando para baixo. Evandro, com a testa franzida. Leandro, por sua vez, não alterou o semblante ou esboçou reação alguma diante das acusações.

Crime premeditado

Diante das pilhas de folhas que compõem o processo, o promotor Bruno Bonamente defendeu que a morte do menino começou a ser desenhada muito antes de 2014 por Leandro e Graciele.

Segundo Bonamente, Leandro teria optado pela nova mulher em detrimento do filho Bernardo desde que o casal firmou relacionamento, em 2010, ano da morte da ex-esposa dele e mãe de Bernardo, Odilaine Uglione.

No início de 2014, segundo a acusação, Graciele teria procurado uma amiga para que a ajudasse no assassinato do menino. “Ela foi sondar a Sandra para ver se Sandra participaria de seu intento, só que ela não teve receptividade, então, recuou”, afirmou Bonamente.

Graciele teria ligado para ela em janeiro de 2014, pedindo para visitá-la. Na ocasião, teria falado muito mal da criança, conforme depoimento da amiga à polícia. “Esse guri, como diz o Leandro, só embaixo da terra ou no fundo do poço”, relata a depoente à delegada, atribuindo a fala à Graciele.

Na sequência, sustenta a promotoria, a ré Graciele teria estreitado a relação com Edelvânia, moradora de Frederico Westphalen, numa segunda tentativa de encontrar uma aliada para cometer o crime.

A promotoria exibiu uma quebra dos extratos que mostram troca de ligações entre as duas nos meses anteriores à morte de Bernardo em 2014. Para a acusação, no dia 29 de março, dia da última ligação registrada antes da morte de Bernardo, elas já teriam arquitetado o crime, que ocorreria dias depois, no dia 4 de abril.

A acusação defende que a pá e a cavadeira compradas no dia 2 de abril, dois dias antes da morte do menino, teriam sido usadas por Graciele e Edelvânia.

“Elas não foram utilizadas pelas duas para cavar o buraco, elas foram utilizadas pelas duas para fechar o buraco. Daí porque essas pás estão pouco utilizadas”, afirmou o promotor Vieira, reforçando que o buraco já teria sido aberto por Evandro.

Participação de Evandro

Ainda que Graciele e Edelvânia tenham inocentado Evandro ao serem interrogadas, e o próprio réu tenha negado envolvimento no crime, o promotor Bonamente reafirmou a participação de Evandro no caso, afirmando que o crime foi premeditado, e que a cova foi aberta antes do assassinato.

“Ele foi cavar o buraco para a irmã, sabendo que seria depositado o corpo de Bernardo”, defendeu.

Durante interrogatório, Evandro disse que estaria em férias e por isso estava pescando nas proximidades do local em que o buraco foi aberto, perto da casa da mãe dele. A acusação, no entanto, alega que a defesa do réu nunca apresentou provas, por meio de documentos, de que Evandro estaria realmente em férias no período.

Segundo a promotoria, uma ligação telefônica indica que Evandro teria tirado férias antes do dia em que o carro dele foi visto no local. Além disso, nenhum morador da região, vizinho de sua mãe, o viu pescando.

 

 

 

 

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